domingo, 18 de julho de 2010

O mestre da obra: João Filgueiras Lima

A vida deste carioca tomou rumo quando ele abraçou a missão de construir a superquadra 108, em 1957. Ali, o recém-formado arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, conheceu os primeiros desafios e iniciou a amizade com Oscar Niemeyer. “Foi uma experiência de vida com sabor de aventura. Começamos erguendo infraestrutura para os operários. O prazo apertado levou à industrialização e à pré-construção”, conta Lelé.


Em 1962, no Centro de Planejamento da Universidade de Brasília (UnB), iniciou a construção dos prédios da instituição. Era responsável pelo curso de arquitetura e por desenvolver projetos de Niemeyer. “Tínhamos que interpretar a intenção dele e executar.” Talvez por isso Lucio Costa (1902-1998) tenha descrito Lelé como o construtor de Brasília, enquanto Niemeyer era o criador. A amizade entre os dois perdura. “Oscar foi uma espécie de mentor intelectual. É generoso, solidário e leal, coisas hoje raras, mas fundamentais”, diz Lelé.



                            
Mas a contribuição de Lelé para a arquitetura vai além da parceria com Niemeyer. Pioneiro em sistemas de pré-moldagem com concreto e argamassa armada, fez escolas e creches de modo rápido e econômico. Por mais de 30 anos projetou para a rede pública de hospitais Sarah Kubitschek. Foi onde suas pesquisas com tecnologia e o planejamento dos espaços alcançaram a plenitude. “Lelé começou a empregar o aço, material mais barato, com liberdade, espaços e curvas”, comenta Cláudio Queiroz, professor da Faculdade de Arquitetura da UnB. Seu apuro construtivo garante o conforto ambiental e humaniza centros de atendimento e reabilitação, com ventilação e iluminação naturais, enfermarias abertas e painéis de Athos Bulcão. Hoje presidente do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), em Salvador, Lelé pretende criar um centro de tecnologia. “A fábrica será suporte para ensino, pesquisa e vai produzir todos os elementos para edificações de interesse social”, conta.

O Sarah-Lago Norte, centro de neurociências e reabilitação, tem três blocos erguidos com pré-fabricados de aço e argamassa, cobertos por sheds metálicos. “Gosto muito da área de reabilitação infantil, a cobertura foi inspirada numa lona de circo. Dentro, num picadeiro central, acontecem atividades coletivas, o pessoal de apoio se organiza em volta”, explica Lelé, na foto diante do novo Sarah-Rio: “O melhor projeto é sempre o último!”


A obra de Lelé é uma conversa entre arquitetura, design e engenharia. No primeiro hospital Sarah Kubitschek (1980), inovou nos pré-moldados de concreto. Na ampliação (1995 a 1997), aparecem sheds – cobertura usada em fábricas para facilitar iluminação e ventilação –, que ele redesenhou e adaptou. As estruturas saíam do CTRS, o Centro de Tecnologia da Rede Sarah, em Salvador, coordenado pelo arquiteto.

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